sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

RESUMO LINHA DO TEMPO DO ENSINO DE MÚSICA NO BRASIL


Extraído do artigo abaixo citado:



O ensino da música no Brasil remonta aos primórdios do processo de colonização, em 1549, a primeira missão dos jesuítas em terras brasileiras foi a catequese dos indígenas e, entre os recursos utilizados destaca-se a música, em função da forte ligação dos indígenas com essa manifestação artística.


Após a expulsão dos jesuítas, em 1759, houve um período de desestruturação, ocasionado pelo fechamento dos colégios inacianos e pela demora, por parte da Coroa, em assumir seus compromissos em relação ao ensino.
As características e formas europeias se fazem presentes em toda a produção musical do período colonial.


A música brasileira sofreu ainda a influência dos negros. Os negros cantavam e dançavam embebidos pelos sons e ritmos de sua pátria distante. Das melodias curtas e ritmo bem marcado com vários instrumentos de percussão, surge o “samba”, originariamente africana.


Apesar de seu caráter eminentemente religioso, ainda no período colonial, a música brasileira 
começa a apresentar sinais de secularização. Isto se deve à descoberta do ouro e das pedras preciosas 
nas Capitanias das Minas Gerais, no século XVII, o que imprime um novo caráter à nossa cultura.



Esses fatos coincidem com a chegada da família real ao Brasil, a 22 de janeiro de 1808, trazendo com ela aproximadamente quinze mil pessoas, dentre elas músicos. Surgem a Capela Real, orquestra de música erudita, que contava com 100 músicos instrumentistas e 50 cantores, e uma orquestra que tocava e cantava músicas populares, constituída por músicos negros. Datam ainda desta época o aparecimento de grandes teatros e as óperas. O país se “modernizava” e a vida cultural e musical no Rio de Janeiro prosseguia agitada (LOUREIRO).


Em contrapartida, cresce o número de professores particulares, o que preenchia a ausência de escolas especializadas para o ensino de música. Além disso, foi grande a presença do piano nas famílias de classe média alta, onde o estudo desse instrumento passou a fazer parte de uma boa educação, principalmente para as moças.
A Independência, em 1822, e a necessidade de imprimir ao país uma feição jurídica determinou a convocação, por parte do Imperador Pedro I, de uma constituinte em 1823. Nos debates sobre o perfil da nova nação, a educação ocupa lugar importante.


Em 1835 é criada, em Niterói, a primeira Escola Normal. Seu currículo, inicialmente muito simples,
é enriquecido com a inclusão denovas disciplinas, entre elas a música.


Foi fundado, em 1841, por Francisco Manuel da Silva (1795-1865) o Conservatório Musical do Rio 
de Janeiro, a primeira grande escola de música do Brasil, hoje Escola de Música da UFRJ.  

O ensino de música no Imperial Conservatório de Música e no Instituto Nacional de Música, estava voltado para a capacitação técnica de indivíduos a partir de uma visão essencialista que privilegiava o “talento”, a vocação, o “dom”, atributos indispensáveis para a prática e a formação do artista.
Quanto ao ensino informal, seu universo era bem diversificado e heterogêneo, uma vez que preparava pessoas para atuar nos espaços não formais, como nos salões e salas da sociedade carioca da época. Atingindo pessoas de nível social diferenciado, a educação informal colaborou para promover um intenso e agitado movimento musical, expressão diferencial das últimas décadas do século XIX.


No início do século XX  ensino da música na Europa sofre mudanças. Influenciados pelo movimentescolanovista, em expansão na Europa, músicos e pedagogos como Edgar Willems (1890-1978), na Bélgica, Jacques Dalcroze(1865-1950), na França, Carl Orff (1895- 1982), na Alemanha, Maurice Martenot (1898-1980), na França, Zóltan Kódaly (1882-1967), na Hungria, Violeta Gainza, na Argentina, desenvolvem propostas inovadoras para o ensino da música, como uma alternativpara escolarização de crianças oriundas das classesociais desfavorecidas (LOUREIRO). 



O projeto de modernização da sociedade brasileira, inaugurado com a Revolução de 30, tem na escola um de seus alicerces. A nova escola, capaz de formar o cidadão brasileiro para a sociedade industrial em vias de implantação no país, alicerçando-se nos princípios da Escola Nova, afirmava a importância da arte na educação para o desenvolvimento da imaginação, intuição e inteligência da criança e recomendava a livre expressão infantil.
No mesmo período, João Gomes Júnior, introdutor da manossolfa no Brasil, realiza um importante movimento em São Paulo, visando imprimir uma nova orientação ao ensino da música nas escolas públicas em São Paulo, suas ideias são incorporadas pelo governo brasileiro, que vê no canto um recurso importante na formação da cidadania e na construção da nacionalidade.

Em 1922, a Semana de Arte Moderna denuncia a situação das artes no Brasil que, influenciada pelo conservadorismo europeu, colocava em planos opostos a música do presente e a música do passado. A proposta renovadora da Semana de Arte Moderna trouxe novas maneiras de se entender o fazer artístico, propondo uma redefinição do ensino de arte, contestando todo aquele que não considerasse a expressão espontânea e verdadeira da criança.
Nesse contexto surge a figura de Heitor Villa-Lobos, cuja música tem raízes na tradição folclórica. Quando introduziu na música as funções descritiva, folclórica e cívica, Villa-Lobos estaria, na verdade, fundamentando a prática do Canto Orfeônico em todas as escolas públicas do país.

Com o apoio do governo e a criação da Superintendência da Educação Musical e Artística (SEMA), a educação musical toma proporções jamais vistas no âmbito do espaço escolar.
Desejoso de educar as massas urbanas através da música, o governo leva à frente o projeto traçado por Villa-Lobos para o ensino do Canto Orfeônico nas escolas primárias e normais, inspirado no modelo alemão, implementando-o, lentamente, durante os anos 30.

O presidente Vargas assinou o decreto nº 18.890, de 18 de abril de 1932, tornando o Canto Orfeônico obrigatório nas escolas públicas do Rio de Janeiro, passando a ser, então, um dos principais veículos de divulgação do novo regime.

A partir da Constituição de 1937, houve a integração do Instituto Nacional de Música – que passa a denominar-se Escola Nacional de Música – à Universidade do Brasil e a criação do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, através do decreto-lei nº 4.993, de novembro de 1942, reforçando a importância da música e da formação do seu professor.
Villa-Lobos através da SEMA cria, nos anos 30, os Cursos Rápidos, com duração de um mês.
Segundo Fuks (1991a, p. 30), “estes aconteciam nas férias, em quase todas as capitais do país e reuniam, geralmente, professores egressos da escola normal que, possuindo um mínimo de conhecimento musical, recebiam aulas de música. Ao final do curso, (...) eram considerados aptos para dar aulas da disciplina.”
Com a saída de Villa-Lobos da direção da SEMA, em 1944, e com o fim do Estado Novo, em 1945, diminui a prática do canto nas escolas e, consequentemente, da educação musical.
Até Villa-Lobos, o ensino da música nas escolas tinha feição conservatorial por meio da prática do Canto Orfeônico. Pretendeu-se por meio de sua metodologia musicalizar não só pela prática, mas também pela teoria da música, atingindo toda a população estudantil.

Surgiu uma nova maneira de ensinar. Buscava-se alcançar uma nova forma de expressão que privilegiasse mais o processo, e menos o produto a ser alcançado. Esse era o propósito no qual a Arte-Educação se baseava para instituir uma nova proposta para o ensino de música.
Ao mesmo tempo em que, de um lado, especialistas apresentavam posições opostas em relação à educação musical, as escolas públicas, escolas de música e conservatórios defendiam, cada qual à sua maneira, uma postura tradicional em relação ao ensino da música nas escolas. Em outras palavras, enquanto as escolas primárias e secundárias procuram manter a prática do Canto Orfeônico, com seus hinos de exaltação cívico-nacionalista, os conservatórios e as escolas de música, numa postura conservadora, alicerçavam-se nos padrões tradicionais europeus ligados aos séculos XVIII e XIX.
Em 1948, Augusto Rodrigues engajou-se em um novo projeto ao absorver e identificar-se com o conceito de criatividade que, lentamente, vinha ocupando espaços desde o final do século XIX, nas diversas esferas da sociedade, principalmente na Educação Musical.

O que ocorria, na verdade, era que a Educação Musical naquela época, estava inserida num contexto cultural no qual sobressaíam dois tipos de professores de música, ou seja, em polos distintos encontravam-se os professores de música da escola pública e os professores de Iniciação Musical.
Os primeiros, formados pela metodologia orfeônica mostravam-se, naquele momento, aliviados, pois a SEMA havia diminuído o controle sobre eles, embora sentissem falta da assistência sistemática que recebiam dessa instituição. Apesar do conservadorismo, os demais professores, emergentes do Centro de Estudos de Iniciação Musical, criado por Liddy Chiaffarelli Mignone, em 1952, no Conservatório Brasileiro de Música, mostravam-se em sintonia com o pensamento inovador e questionador que despontava naquele momento, ao mesmo tempo em que procuravam abandonar tudo que era considerado velho.

REFERÊNCIAS

LOUREIRO, Maria Alícia Almeida. O ENSINO DA MÚSICA NA ESCOLA FUNDAMENTAL: UMA INCURSÃO HISTÓRICA. Disponivel em  Acesso em 02/01/2018.